domingo, 8 de novembro de 2009

Cálice

Foi tu que me trouxeste esse tão belo cálice
Que em momento nenhum eu pedi para ser afastado de mim

Não, eu não nego.
Eu me entrego e entregarei, se assim tu desejardes.

Eu serei tua, se os ventos deixarem,
Eu serei somente tua.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Cata- vento

A menina sente a grama abaixo de seus pés, e com ela vem toda a sensação que não sai da sua cabeça; sente-se limpa, pura, cheia de flores e cheiros, e ao mesmo tempo vazia, ocupada por uma imensa saudade, corrosiva e intensa. Farta-se das paredes, a menina quer mais, quer mais espaço, mais ar, quer um cata-vento a girar só para si, e que ele tenha a capacidade de girar com sentimentos, e não só com vento.
A menina sonha, sonha tanto que se farta de não ter. Cansa-se da falta do material, da ausência tão dura, tão seca. A menina quer o molhado, o úmido, o cheio de fluidos, e com os fluidos que venham os doces,os agradáveis, os melhores sentimentos. Mas enche-se de vento, de brisa leve e solta, como o vento que dança com sua saia. E o vento farta-se de si, por habitar aquele corpo tão incauto, e não possuir aquela mente tão impenetrável. E a mente torna-se cada vez mais forte, a fortaleza de seu corpo está na mente, e nos sentimentos que nela estão. São os sentimentos da menina que a fazem ser o que é, a menina dos pensares demais. E eus pensares movem-se como o vento, rápido, não doce ventina, e sim tufão, passam levando tudo que não é firme e voltam à dona como num giro, como o tão desejado cata-vento.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Andando por essa cidade de solares e luares só uma idéia persiste em não sair da cabeça da menina.Passeia pela Antiga,e as cores e formas velhas lembram tardes- quase noites- de passeios infindos e desvairados, onde na cabeça só uma coisa passava.Corre pelos becos e esquinas iguais-incrivelmente iguais- tentando decifrar , ou melhor, ao menos decodificar aquela teia confusa e condensada da mesma idéia a passear. Pelos bares, aqueles do cais,as cervejas rodavam bandejas, geladas e apetitosas,mas não para a menina, que continuava com apenas um pensar, que por essas horas, além de apenas sinapses e impulsos, já tinha virado desejo, tão forte e tão latente que já transformava a aparência e o humor.

Descaradamente andava a procurar, parava em algumas casas, à procura de lembranças vagas,jamais mais fortes que as que repousavam-nesse momento- em sua mente, arrodeava pelos cantos, corria pelas estradas, corria,corria, mas a cabeça não esvaziava, se quer amenizava. Creio que não devo me intrometer , mas acho que a menina descobriu a saudade.

No café que tomava insaciavelmente, cada pedacinho do pó moído entrava na sua garganta como a mais potente droga, mais uma vez os pensamentos e as lembranças que aquele gesto cotidiano a traziam, inebriavam e torpeciam a cabeça, e as pernas da menina.
Que coisa!
(...)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Tudo se revela!

Fecha os olhos: cala.
Desliza a mão: perde a calma.
Deixa-se levar: perde a fala.
Afasta-se: e fica sem ALMA!

Rola na cama - e não descansa;
Corre pro banheiro - a perna cansa;
Volta para a sala - e tudo desanda;
Recebe um dengo, e a raiva amansa!

Ouve um som e o coração palpita
Deseja uma boca e o pulsar se agita
Pensa num gosto e a vontade grita.

Ama; e tudo se acomoda!
Quer; e tudo se assossega!
Tem; e tudo se revela!