quinta-feira, 17 de julho de 2014

Para ser menos guerra

Há tanta guerra em mim que me espanto com quanto sangue corre fora de minhas veias. Sangue meu e de outrem. Mas perto de ti essas batalhas que travo diariamente empatam-se. Não há derrotas. Você troca o sangue pelo sorriso - sorriso de canto de boca, sem graça e com toda graça. Você me faz querer deixar a guerra de lado, do seu lado.
E te sorrio, te vejo e te aprendo.
Encosto minha cabeça em teu colo e, em segurança, te mordo, atrevida, a perna que me segura o dengo. E te permito entrar em mim, comigo, para ser menos guerra e mais doçura.

sábado, 12 de julho de 2014

Sobre viões - dos grandes!



E a menina pensava sobre doçura e sobre inocência. Percorria pensares voadores, pensares de vião. De vião grandão.

E fugia, nas nuvens-construções que eram cortadas por aquele monstro macerador de comportamentos. O que seria aquele conjunto de turbinas e engrenagens? Rodopiava com os neurônios das pobres almas que se utilizavam dos seus serviços, redondamente, rapidamente, rotatoriamente. Ou engrenava-se em seus pensares, modificando-os e chateando as feições dos cachinhos - ah! Se fosse só questão de expressões faciais! A questão ali era de dentro, entranhada, e escondida, ou não.

Aquela coisa seria, possivelmente, um usurpador de jeitos. Uma vez subidas aquelas escadas, ai! As escadas! Tão cinzas e inclinadas! As condutoras do caos. Passados os retângulos sucessivos não havia mais volta. Não volta mais a que foi. E deu adeus baixinho, num sibilo, quase um choro, àquela que não veria mais. E pensou: eu poderia ter dito o quanto me valia a permanência, a não mudança, o contínuo. Mas era só um vião, um vião grandão. E viões grandões não mudam ninguém, eles só levam. Trazer-se de volta, pra onde e pra quem, é questão de querer. E ela não queria.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sobre o vento.

A menina passou agora a divagar sobre o vento e sobre o ventar. Passa como quem arqueia flechas, contrária àquele vento-menino que por tanto já ventou em si. Respira um vento Oyá e carrega-se de força e vida.

Ah! O vento! Não há sensação melhor - ou há, mas agora, em sua mente, não - do que ser tocada pelo vento. O vento que afaga, arrepia e amarga. Até seu amargor é doce. O vento que ouriça e que desalinha os cabelos, mas não só eles. O vento que mais ventou naquele aberto Abril, mesmo a contragosto, no fogo que era a menina. Mas o mesmo vento que apaga é o que atiça, e o vento que acalma é o que desapodera. Porque o vento o é, desassossego e calma.


E se pergunta - incrédula, mesmo antevendo o que se passa em redemoinhos ventados por seu infindo pensar - quem pode segurar um vento?